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ATA DA SESSÃO SOLENE EM HOMENAGEM A CARLOS ALBERTO SHORT, SEGUIDA DE REUNIÃO ADMINISTRATIVA, DA ACADEMIA BRASILEIRA DE FILOLOGIA DE 19 DE JUNHO DE 1999

 

Às quinze horas e trinta minutos do dia dezenove de junho do ano de mil, novecentos e noventa e nove, reuniram-se os membros da Academia Brasileira de Filologia, amigos e parentes de Carlos Alberto Short Nunes, na sala do RAV 112, décimo primeiro andar do bloco F do Campus Maracanã da Universidade do Estado do Rio de Janeiro. Aberta a sessão foi aprovada a ata de 15.5.99. O Senhor Presidente, Professor Doutor Leodegário Amarante de Azevedo Filho, indicou a pauta: "Homenagem póstuma ao Acadêmico Carlos Alberto Short Nunes". Em seguida, o Senhor Presidente passou a palavra ao orador, Acadêmico Horácio França Rolim de Freitas, que proferiu o seguinte discurso: “Senhor Presidente da Academia Brasileira de Filologia, Prof. Dr. Leodegário Amarante de Azevedo Filho. Senhores Acadêmicos, Prezados familiares do Prof. Carlos Alberto Short, Minhas senhoras e Meus senhores. Há um ano, no dia 06 de junho, em inesquecível cerimônia, recepcionei nesta Academia, ao ser empossado, o Prof. Carlos Alberto Short. Quis o destino que, hoje, coubesse a mim proferir estas palavras de homenagem póstuma. Nascido em 16 de maio de 1941, na cidade de Niterói, deixou nosso convívio no dia 14 de maio próximo passado a dois dias de completar 58 anos. Desde cedo demonstrou pendor para as Letras, cultivando, com dedicação, os textos clássicos dos mestres de nossa Literatura. Cursando a Faculdade Nacional de Filosofia da Universidade do Brasil, onde teve como mestres, dentre outros, Zoé Pedrinha, Sieglinde Autran, Ernesto Faria, Gladstone Chaves de Melo, licenciou-se em Letras Clássicas. Sua dedicação às Letras levou-o a aprimorar a formação acadêmica, fazendo inúmeros cursos de especialização em Filologia Portuguesa, Filologia Românica, Língua Latina, Literatura Brasileira, Lingüística, Língua e Literatura medievais. Exerceu o magistério nos educandários Colégio Bittencourt da Silva, Britsh School, Instituto Americano, dentre outros, e na rede pública no Colégio Municipal Cardeal Leme. No ensino universitário trabalhou na Faculdade Niteroiense de Letras, na Faculdade de Filosofia, Ciências e Letras São Judas Tadeu, na Faculdade de Ciências e Letras de Volta Redonda, na Universidade do Estado do Rio de Janeiro (UERJ), onde ingressou por concurso, de cuja banca examinadora participei. O Amigo: Short, sempre afável, alegre e de simpatia contagiante, era um amigo sincero que não media palavras par o elogio, bem como não poupava crítica quando necessário. Admirado pelos alunos, estimado por todos que com ele conviveram, reuniu em sua posse nessa Academia perto de 300 pessoas, que vieram dar-lhe o abraço de congratulação. Nesse ato, pôde-se constatar a admiração que lhe devotavam parentes e amigos, e o afeto que Short possuía pelo ser humano. Agradeceu quase um a um dos parentes, mencionando-lhes o nome com uma palavra de carinho. Como todo taurino, pois nasceu no mês de maio, era amante da verdade, defendia com veemência seus pontos de vista e não compactuava com os bajuladores das causas duvidosos. Realmente um caráter impoluto que, hoje, rareia nos homens de bem. Como homem de letras, deixou apreciável obra em publicações sobre Língua Portuguesa, Literatura Portuguesa, prefácios, artigos em inúmeros periódicos, como O Fluminense, Folha Regional, Letras Fluminenses, Correio da Manhã, Jornal de Cultura, O Correio, este em uma coluna dedicada à nossa Academia, denominada História das Palavras e, depois, Filologia. Os três últimos artigos foram de sua autoria, sendo que os dois últimos Short, já hospitalizado, não os viu impressos. O último artigo, datado de 30 de abril, 14 dias antes de seu falecimento, versou sobre gramáticos renascentistas, abordando a obra de Duarte Nunes de Leão, sobre o qual Short destacou o interesse pela Diacronia. Colaborou como verbetista no Dicionário de Lingüística de Zélio Jota, publicado pela Editora Presença. Também a revista Idioma, do Instituto de Letras da UERJ, teve a colaboração de Short. Inédita ficou sua Dissertação com que obteve o título de Mestre nesta Universidade, intitulada: "Século XVI: A "Agonia" de um Estilo e o "Êxtase" da Língua à Luz da Filologia". Como professor soube incutir nos alunos o amor ao idioma nacional, o trato com os textos, fonte primordial para o conhecimento da língua, em oposição às teorias abstratas, e muitas vezes obtusas, que campeiam, hoje, nos estudos de Lingüística. Era notório o interesse dos alunos por suas aulas. Aulas motivadas pelo amor à matéria ministrada, pela profissão e pelo exemplo do mestre. Mais do que as palavras — sabemos todos — é o exemplo que convence, conforme o adágio latino: Verba volant, exempla trahunt. (As palavras se perdem; os exemplos arrastam). Short labutou, incansavelmente, como todo bom professor neste país. Exerceu o magistério em Niterói, no Rio de Janeiro, em Friburgo, em Londrina, em Corumbá, em Santa Cruz dos Palmares, sendo estas três últimas cidades pelos Cursos da CADES, através do Ministério da Educação e Cultura. Atuou, ainda, em Resende, em Maricá, em Assis (S. Paulo). Participou de vários congressos e simpósios de Filologia, Lingüística, Língua e Literatura Inglesa, de Reforma do Ensino, de Etnolingüística, de Língua Portuguesa dentre os quais se podem destacar os Congressos Brasileiros de Língua e Literatura, criados e dirigidos por nosso operoso e erudito presidente, Prof. Leodegário Amarante de Azevedo Filho. Defensor da Filologia, além de participar dos mencionados congressos, ativamente, promoveu o I Encontro de Filologia na UERJ do qual participaram nomes significativos da Filologia. Sempre dedicado, Short, nesse evento, prestou homenagem a Mestres como: Vittorio Bergo, Modesto de Abreu, Othon Moacyr Garcia, Antônio Soares Amora entre outros. Planejou e executou, também, o I Seminário de Filologias Clássica e Românica, realizado na UERJ. O II Encontro Nacional de Filologia Short dedicou-o ao Mestre Evanildo Bechara, homenagem aos seus 70 anos de vida. Na Faculdade de Educação da UERJ, promoveu o Reconhecimento aos Grandes Ídolos da Rádio Nacional e os Cem Anos de Cinema, considerado pela crítica o maior evento de cinema nos últimos cinqüenta anos. Reuniu nomes da Filologia que prestaram depoimento sobre a figura ímpar de Ferdinando Sousa da Silveira, gravado no centro de Tecnologia Educacional da UERJ, do qual participaram Maximiano de Carvalho e Silva, Rosalvo do Vale, Evanildo Bechara, Gladstone Chaves de Melo, Olmar Guterres da Silveira, Horácio Rolim de Freitas e Alvacyr Pedrinha. Vê-se quão profícua foi a vida do acadêmico Carlos Alberto Short. Soube enaltecer a Filologia, despertando nos discípulos o interesse pelo estudo e pela pesquisa, orientando-os na busca dos grandes mestres cujas obras são imprescindíveis à base cultural de quem se dá às Letras: à língua e à literatura, de que são exemplos Sousa da Silveira, Clóvis Monteiro, Serafim da Silva Neto, Leite de Vasconcelos, Said Ali, para citar apenas alguns. Antevê-se a falta que Short fará na disseminação dos campos da Filologia em nosso Estado. Hoje, considerada "filha bastarda" pelo domínio aventureiro e perturbador da Lingüística, tão mal assimilada e utilizada no Brasil, à exceção de alguns que a pontificaram, sem exagero e sem menosprezo pela Filologia, como um Mattoso Câmara ou um Sílvio Elia. Como acadêmico, conduzido por mãos amigas, minha e do Prof. Evanildo Bechara, Short, antes mesmo de ser empossado, já trabalhava, procurando descobrir o cartório em que esta entidade fora registrada na década de 10. Incansável, encontrou-o: consta do DO de 1º de novembro de 1911, possibilitando, assim, um 2º registro que se fazia necessário. Grangeou a amizade dos colegas pela sinceridade do tratamento, pelo respeito aos Mestres e pela sólida cultura que demonstrou. Quis o destino que por aqui passasse como um meteoro. Veio, cumpriu sua tarefa, em breve tempo, deixando-nos saudosos, privados de seu convívio, de sua alegria e de suas gargalhadas estrondosas que nos faziam rir antes mesmo de ele narrar algo pitoresco. No bom sentido, viveu Short o princípio horaciano: carpe diem (aproveita o tempo, o dia, a vida). Amava tanto a Filologia que talvez tenha preferido seguir os Mestres os quais admirava de coração e que também chamados foram pelo Pai Eterno: Alvacyr Pedrinha, Sílvio Elia, Olmar Guterres da Silveira. Se assim foi, está em boas companhias, reunidos todos numa filial desta Academia, no azul celeste, para onde, com o tempo, iremos engrossar aquelas fileiras e, ali, continuarmos a discutir os temas filológicos. Ontem, recebi-o com estas palavras: "Short, esta Academia o recebe de braços abertos". Hoje, digo-lhe: Esta Academia acena com um adeus, sentimento de saudade porque você partiu. Que sua alma encontre no espaço eterno, Acadêmico Carlos Alberto de Araújo Martins Teixeira Short Nunes, um caminho brilhante e digno, rumo à evolução, que aqui você iniciou. REQUIESCAT IN PACE!” A seguir, fica inserido o discurso do Prof. Evanildo Bechara, que não foi lido, em virtude de o acadêmico ter-se atrasado para a reunião, por causa dos transtornos causados ao trânsito, nos preparativos para a reunião da CIMEIRA. O discurso do Prof. Bechara vai aqui transcrito: “Short não foi apenas um amante de sua profissão, mas também um amante de seus mestres e de seus amigos. Pautando-se pelo peso da justiça e pelo que considerava as boas causas, lutou denodadamente por elas até à exaustão, cultivando uma qualidade hoje tão fora de moda, por causa da competição às vezes desnecessária, ou pela inveja, sempre tão desprezível, Short foi um eterno agradecido a seus mestres, a quem lhe podia enriquecer a cultura lingüístico-filológica e a experiência didático-pedagógica. Falava alto em defesa dos verdadeiros valores, e execrava aqueles que só mostram sua arrogância e só trabalham no campo da intriga. Com seu falecimento, tão prematuramente roubado à vida e às atividades de magistério médio e superior, perde nossa Academia um dos membros que mais lhe poderiam engrandecer as importantes tarefas de divulgação e engrandecimento do idioma português. Também seus companheiros perdemos um amigo dileto, devotado e leal, um companheiro de estudos.Que Deus, na sua infinita bondade, o acolha na sua santa casa!” Concluída a oração do Acadêmico Horácio Rolim, o Senhor Presidente franqueou a palavra aos acadêmicos, interferindo a Professora Luíza Ozório Berthier, que relatou o fato de o Prof. Short ter visitado o saudoso Prof. Luiz Marques de Souza, quando este se encontrava acamado, tendo o Mestre Luiz identificado um amigo que não conhecia até então. O Prof. Leodegário agradeceu e fez novos elogios ao acadêmico homenageado, lamentando a sua perda. A seguir, comentou a participação que já se esperava do Professor Carlos Alberto no congresso internacional "BRASIL – 500 Anos de Língua Portuguesa", fazendo ainda outros comentários sobre o evento que será realizado em julho. Dando continuidade às informações do momento, o Senhor Presidente disse que a Academia já conseguiu uma sala na UERJ, onde será colocado um computador e empregada uma secretária. Para auxiliar na aquisição do computador, informou que a Sociedade Brasileira de Língua e Literatura está doando à Academia Brasileira de Filologia cinco exemplares das Atas do Primeiro Congresso Internacional de Estudos Camonianos, comentando alguns dos artigos ali contidos e colocando-os à venda por vinte e cinco reais, sendo vendidos todos imediatamente. Terminados os comentários e informes, o Senhor Presidente deu a palavra aos familiares do Prof. Short, dada a pressa com que se desejava concluir aquele item da pauta por causa da previsível dificuldade do trânsito. Falaram cinco familiares, sem se identificarem nominalmente. A seguir, sendo franqueada a palavra a outras pessoas que dela desejassem fazer uso, falou o Prof. Márcio Luiz Moitinha Ribeiro,"aluno do Professor Short" e catequista da Igreja de Nossa Senhora da Paz, lendo e comentando a passagem evangélica referente à morte e ressurreição de Lázaro. Franqueando o Senhor Presidente a palavra, mais uma vez, falou o Acadêmico Paulo Silva de Araújo. Concluída a primeira parte da sessão, que foi a homenagem póstuma ao Prof. Short, os familiares foram dispensados, dando-se continuidade à reunião com a Seção Administrativa da Reunião, em que se fez a apuração da eleição dos acadêmicos Fernando Ozório Rodrigues para a cadeira número 2, cujo patrono é o Padre Antônio Vieira, na vaga deixada por Alvacyr Pedrinha (eleito com vinte e três votos); Álvaro de Sá para a cadeira número 13, cujo patrono é Franco de Sá, na vaga deixada pelo Acadêmico Antônio de Pádua da Costa e Cunha, (eleito com vinte e seis votos), e Hilma Pereira Ranauro para a cadeira número 34, cujo patrono é Alberto Faria, na vaga deixada pelo Acadêmico Sylvio Edmundo Elia (eleita com vinte e seis votos). A apuração dos votos foi feita pelos acadêmicos Castelar de Carvalho e Rosalvo do Vale, coordenados pelo Senhor Presidente da Academia Brasileira de Filologia, Leodegário Amarante de Azevedo Filho. Terminada a apuração e eleitos os acadêmicos Fernando Ozório Rodrigues, Álvaro de Sá e Hilma Pereira Ranauro, passou-se para o terceiro item da pauta: "Assuntos Gerais". Com a palavra, o Vice-Presidente da Academia Brasileira de Filologia, Evanildo Cavalcante Bechara, propõe que a cada seção da Academia um acadêmico fale sobre um tópico do Dicionário da Gramática. A seguir, o mesmo Acadêmico Evanildo Bechara pede um voto de "permanente presença do acadêmico Olmar Guterres da Silva". O Acadêmico Castelar de Carvalho indagou ao Senhor Presidente se a Secretaria da Academia fará trabalhos para os acadêmicos, o que foi respondido que "sim", desde que não sejam trabalhos que exijam muito tempo. Poderá ser pedida a digitação de um artigo, por exemplo, não a de um livro. O Prof. José Pereira da Silva fez as anotações desta sessão. Não havendo mais assuntos na pauta, o Senhor Presidente declarou encerrada a reunião às dezessete horas e cinco minutos e eu, Manoel Pinto Ribeiro, Segundo Secretário, lavrei a presente ata, que vai assinada pelo Presidente e por mim, Segundo Secretário.

 

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