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ATA DA REUNIÃO ORDINÁRIA DA ACADEMIA BRASILEIRA DE FILOLOGIA DO DIA 26 DE MAIO DE 2001

 

Às quinze horas e trinta minutos do dia vinte e seis de maio do ano dois mil e um, no Auditório D da UERJ (Rua São Francisco Xavier, 524, 11º andar, bloco D), iniciou-se a Reunião Ordinária da Academia Brasileira de Filologia, sob a presidência do Vice-Presidente, Evanildo Cavalcante Bechara, estando presentes Adriano da Gama Kury, Amós Coêlho da Silva, Carlos Eduardo Falcão Uchôa, Castelar de Carvalho, Agenor Ribeiro, Claudio Cezar Henriques, Evanildo Bechara, Fernando Ozório, Francisco Agenor Ribeiro da Silva, Maria Emília Barcellos da Silva, Maximiano de Carvalho e Silva, Gladstone Chaves de Melo, Hilma Pereira Ranauro, José Geraldo Paredes, José Pereira da Silva, José Ricardo da Silva Rosa, Leodegário A. de Azevedo Filho, Maximiano de Carvalho e Silva, Ricardo Stavola Cavaliere e Rosalvo do Vale e mais oito pessoas, cujos nomes estão relacionados no Livro de Registro de Presenças da Academia Brasileira de Filologia, entre os quais aqui se registram nominalmente a Senhora Aurora J. Henriques (mãe de Claudio Cezar Henriques) e o Sócio Correspondente Valter Kehdi. Antônio Martins de Araújo, Antônio José Chediak, Antônio Nunes Malveira, Domício Proença Filho, Jayr de Vasconcelos Calhau, Gilberto Mendonça Teles, Horácio França Rolim de Freitas, Manoel Pinto Ribeiro e Marina Machado Rodrigues justificaram suas faltas. Ao iniciar a Reunião, o Presidente em exercício, Evanildo Bechara, fez o registro da passagem de dois anos do falecimento de Olmar Guterres da Silveira, exatamente nesta data de vinte e seis de maio, e mandou ler a ata da reunião anterior. O Segundo Secretário pediu que aguardasse uns minutos que as cópias estariam vindo por sua Secretária Particular para serem distribuídas aos presentes, fazendo-se as retificações necessárias e aprovando-se na forma que então tomou. Chegando com atraso, o Senhor Presidente, Leodegário assume a direção dos trabalhos e registra o fato de que ontem, dia vinte e cinco de maio de dois mil e um, foi um dia de festa para a Academia Brasileira de Filologia porque o seu Vice-Presidente, Evanildo Cavalcante Bechara, tomou posse na Academia Brasileira de Letras, na cadeira trinta e três, tendo sido recepcionado por outro membro da Academia Brasileira de Filologia, o Sócio Correspondente Sérgio Corrêa da Costa. A seguir, o Senhor Presidente informou também sobre o Seminário Superior de Língua Portuguesa, que ocorrerá de dezesseis e vinte e sete de julho na Universidade Estácio de Sá, tendo como docentes: Leodegário A. de Azevedo Filho, Evanildo Bechara, Rosalvo do Vale, Walmírio Macedo, Ricardo Stavola Cavaliere, Claudio Cezar Henriques, Álvaro de Sá, Marina Machado Rodrigues, José Pereira da Silva, Castelar de Carvalho, Antônio Martins de Araújo e Gladstone Chaves de Melo. A seguir, o Senhor Presidente mandou que o Primeiro Secretário lesse um texto de sua autoria (que vai como anexo a esta ata) em homenagem póstuma ao bibliófilo Plínio Doyle. Ricardo Cavaliere pede a palavra para informar também de que a UFF estará realizando no mês de junho um seminário intitulado “Gramática e gramáticos: nvos rumos da descrição gramatical”. Dando prosseguimento aos trabalhos, o Senhor Presidente mandou que o Segundo Secretário, José Pereira da Silva, lesse o seu Parecer sobre a admissão dos candidatos a Sócio Correspondente, Prof. Dr. João Bortolanza, da Universidade Federal do Mato Grosso do Sul, e do Prof. Dr. Manoel Mourivaldo Santiago Almeida, da Universidade Federal do Mato Grosso, para representarem a Academia Brasileira de Filologia em seus respectivos Estados. Apresentado o Parecer com voto favorável do relator, o Senhor Vice-Presidente sugeriu que fosse lido o Anteprojeto de Normas para a Admissão de Membros Efetivos e Sócios Correspondentes, por Maximiano de Carvalho e Silva, para se aproveitarem algumas de suas sugestões como orientação dos votos dos presentes. A leitura e discussão do anteprojeto foi feita, mas o Senhor Presidente achou por bem que os candidatos já inscritos não sejam eleitos pelos critérios que agora estão sendo estabelecidos, mesmo depois de aprovados (o que só se dará depois de amadurecidas discussões). O Senhor Vice-Presidente, concluindo, acompanhou o voto favorável do relator e a admissão de João Bortolanza e de Manoel Mourivaldo Santiago Almeida como sócios correspondentes foi aceita por unanimidade. Por fim, o Senhor Presidente mandou que o Primeiro Secretário, Amós Coêlho da Silva, desse notícia das correspondências recebidas, o que foi feito com o registro das correspondências de Elvo Clemente (RS), Sílvio Castro (Itália), Ângela Vaz Leão (MG) e uma correspondência do Editor Paulo França, que lembra ter sido dele que partiu a idéia da realização do Seminário Superior de Língua Portuguesa. Terminada a sessão acadêmico-administrativa, o Senhor Presidente, Leodegário Amarante de Azevedo Filho deu a palavra ao Senhor Vice-Presidente, Evanildo Cavalcante Bechara, para recepcionar o novo Sócio Correspondente, Valter Kehdi, que o fez traçando uma síntese biográfica do recepcionado. A seguir, foi dada a palavra ao Sócio Correspondente Valter Kehdi, que foi conduzido à mesa pelo Decano da Academia Brasileira de Filologia, Gladstone Chaves de Melo, agradeceu a honrosa recepção e proferiu uma palestra sobre “Aspectos da obra de Mattoso Câmara Jr.” A seguir, sob a presidência de Leodegário A. de Azevedo Filho, inicia-se a mesa-redonda sobre “O Estudo e o Ensino da Língua Latina”, em que falaram, pela ordem: Amós Coêlho da Silva (depois de ler uma notícia divulgada por José Pereira da Silva sobre o ensino do Latim, a pedido do Presidente da Sessão), Rosalvo do Vale e José Ricardo da Silva Rosa. Houve algumas pequenas intervenções, visto que o tempo urgia, e o Senhor Presidente (determinando que seja marcada uma Reunião Extraordinária da Academia Brasileira de Filologia, na época da realização do V CONGRESSO NACIONAL DE LINGÜÍSTICA E FILOLOGIA com a finalidade de recepcionar os novos sócios correspondentes que estarão presentes naquela oportunidade), declarou encerrada a reunião às dezoito horas e quarenta minutos. E eu, José Pereira da Silva, Segundo Secretário, lavrei a presente ata que vai assinada por mim e pelo Senhor Presidente.

 

ANEXOS:

ANEXO 1: O estudo e o ensino do Latim, por Amós Coêlho da Silva (UERJ)

ANEXO 2: Programa do Seminário Superior de Língua Portuguesa

ANEXO 3: Anteprojeto de normas para a admissão de membros efetivos e correspondentes na Academia Brasileira de Filologia

ANEXO 4: Homenagem póstuma ao bibliófilo Plínio Doyle, por Leodegário A. de Azevedo Filho

 

 

ANEXO 1:

O ESTUDO E O ENSINO DO LATIM

Amós Coêlho da Silva (UERJ)

 

Começaremos a nossa breve intervenção, narrando um episódio noticiado pelos jornais há pouco tempo. O Ministro Pedro Malan foi assistir na PUC à formatura de um parente seu. Evidentemente, por se tratar de tão ilustre presença, a mesa de trabalhos acadêmicos o convidou para participar dela. No momento de encerramento, confessou o ilustre Ministro que era lamentável não ocorrer, ao menos, um discurso em Latim, como se haveria de esperar em casa acadêmica de mais alto nível. Fico pensando se não foi ironia essa sua confissão, pois membros da ABL fizeram surgir na mídia comentários sobre a volta do latim para os currículos escolares. No programa Haroldo de Andrade houve uma enquete; o Dr. Carlos “Cher”, Diretor de um hospital em Laranjeiras, foi consultado sobre a importância dos estudos latinos. Sua resposta foi o seguinte diagnóstico: não havia necessidade de estudos latinos, principalmente em relação à área médica. Um ilustre advogado declarou que não admite nos documentos do seu escritório citação latina. Ou seja, esses aforismos, às vezes, citados com esnobismo formaram para ele a única utilidade do Latim. Logo se vê, o grau de visão que este cidadão tem do mundo que o circunda. Quando eu afirmo que dou aula de latim, costumo ouvir que “mas ainda se estuda Latim”. Dessa expressão temos o seguinte sentido, trata-se de pessoas com faixa etária entre 50 e 60 anos e que o estudaram, mas não descobriram por quê.

Há um pragmatismo avassalador que descarta o estudo das coisas do espírito, como dizia o Professor Sílvio Elia. E as autoridades acatam esse desejo, retirando quaisquer chances de educação escolar. Dois exemplos: 1)na rede pública para suprir a falta de professores, principalmente devido ao custeio, apesar dos baixos salários do magistério, diminui-se o número de aulas nas séries seqüenciais do primeiro grau. Assim, no segundo segmento, eu trabalhava com quatro aulas por semana em turmas de 5ª e 6ª séries e com três aulas, nas de 7ª e 8ª séries. No Pedro II, o Professor José da Silva Pires se confessou desgostoso, pois queriam acabar com o latim porque precisavam que lecionasse Português, uma vez que o governo não permitia concurso público e havia uma lacuna nas aulas de Português. 2)Os responsáveis pelos alunos não se manifestam. O interesse desses cidadãos é conforme já observara o Professor Gladstone, A Língua do Brasil, p. 181:

Os pais, por sua vez, têm não raro larga culpa no cartório. Querem que os filhos "passem". (grifo do autor) De qualquer maneira. Há uns que exigem "garantia" (grifo do autor) por parte do estabelecimento. Se os filhos logram más notas ou são reprovados, esses cidadãos se enfurecem contra os professores e às vezes os ameaçam de pancada. Ou tentam o suborno. Se algum professor me lê, que diga dos seus momentos difíceis diante dos pais furiosos com a "injúria", com a "perseguição" que sofreram seus filhos.

Portanto, torna-se um quadro irreversível, como dizia o Prof. Olmar Guterres que me narrou um episódio de uma excursão pela Europa em que uma brasileira, sua vizinha, adoecera. Assistida pelo médico local, o laudo clínico foi aviado em Latim.

Cada vez mais se diminui o ensino do Latim no Brasil. Para as diretrizes curriculares regulamentadas a partir de uma apressada, genérica e curta menção que as autoridades formularam na nossa Constituição sobre educação, são suficientes para a educação no Brasil duas aulas semanais de Latim, cursadas em dois semestres e, assim, o perfil do recente professor de Letras fora, no ano 2000, conforme a revista do Provão, capaz “de analisar, descrever e explicar, diacrônica e sincronicamente, a estrutura e o funcionamento de uma língua, em particular da língua portuguesa”. Porém, se as universidades do Brasil seguirem a revista do Provão 2001, o que é mais provável, não precisarão se preocupar com o detalhe diacronia e sincronia. O que diria Saussure a respeito da sua importantíssima dicotomia? Quem diria: Saussure! O introdutor bases científicas da lingüística reivindicou a habilidade didática do Professor Castelar para escrever Para compreender Saussure.

É fato, já não se morre mais do coração, no Brasil, no século XXI, por causa do desaparecimento do Latim dos currículos básicos. Ao contrário, julga-se que seja um absurdo este estudo, conforme vemos depoimentos contraditórios de autoridades influentes, mas não muito responsáveis.

A situação se agrava mais ainda, quando constatamos que não se estudam mais no primeiro nem no segundo assuntos, como fonologia, flexionismo do verbo, ampliação do vocabulário pela estruturação de prefixos, sufixos e radicais gregos e latinos, sintaxe etc. Os danos são calamitosos. Relatados, ficam parecendo risinhos de professor enfarado. Desse modo, encontramos universitários de Letras que não sabem que a forma "era" é pretérito imperfeito do indicativo. E mais: de qual verbo? E isso não é de agora. O Professor Gladstone, na página 182 da mesma obra, nos relata que na antiga Faculdade Nacional de Filosofia leu em suas provas intelequitual (intelectual), comessem é particípio presente do verbo edere (textual), corroboem por corroboram, cearence com "c" e frases sem sentido. E isso nos curso de Letras!

Como cotejar o flexionismo nominal e verbal, função da preposição em Latim com o Português? Consulta ao dicionário? Eis outro ponto de semestre. É certo como afirma Mattoso, em Dicionário de Filologia e Gramática - atualmente Dicionário de Lingüística e Gramática, no verbete Tema, que se discute entre os lingüistas o valor de morfema no índice vogal temática, ou seja, se a vogal temática teria ou não um significado de categoria gramatical. Se eles dessem aula de Latim, iriam descobrir que os estudantes não distinguem o repouso da palavra no dicionário em relação ao flexionismo em contexto oracional, ou seja, quando está acontecendo a parole e a langue.

Eu costumo insistir no Português, quer dizer, o português transmitido, o qual foi recebido do nosso meio social, como bem o aborda o Prof. Gladstone em Iniciação à Filologia Portuguesa, e lhes pergunto: Vocês encontram no dicionário português amava, amamos, alunos, aluna? Pois então qual é a situação da palavra? É a de tema. Eu vos digo: ‘Mattoso tem razão!’, pois aquilata que mas não há dúvida que o índice temático participa do mecanismo gramatical da língua. Eles, os alunos, concordam, mas alguns esquecem. E por quê? Porque nunca aprenderam a estudar o idioma deles. Não freqüentaram uma aula em que lhes ensinassem advérbio e pronome interrogativos. Bem, mas em inglês, eles estudaram.

Muitas vezes, eu utilizo o Inglês presente na mídia para favorecer a aprendizagem e provar a importância do latim em expressões como exit, media. Chegando a ponto de retirar proveito do Show do Milhão, fundamentando o gênero neutro latino, no episódio que meus alunos me relataram sobre a pergunta do plural de quantum. Eu lhes respondi: “Está vendo, o Latim é útil!” E isso ocorre porque o descrédito da necessidade, não apenas importância, do estudo de Latim convenceu completamente o nosso alunado. O fato de existir na Internet muitos sites com assunto latino: preces de catecismos católicos, menções de Carmina Burana, até mesmo os neologismos escabrosos como deletar. Tais recursos se constituíram em meus aliados didáticos.

Quando defendemos o estudo do Latim, não acreditamos, como em dado momento da história da lingüística, em que concebeu no Latim uma gramática geral, quer dizer, o Latim seria detentor de todas as possibilidades gramaticais e, dessa pretensiosa unidade lingüística, poder-se-ia empreender até uma aproximação com outra língua. Este erro, se eu o cometesse, seria perdoado, uma vez que, nos ensina Ernesto Faria que, no seu livro Introdução à Didática do Latim, escrito há cinqüenta anos, porém atualíssimo - a não ser que alguns intelectuais o condenem, porque examinam a bibliografia olhando a data da edição, e não o conteúdo. Já se perguntou se alguma academia não poderia reeditar Platão e Aristóteles só para modernizar-lhes o discurso - é inegável a presença do Latim nas línguas européias, ou seja, em povos colonizadores do mundo, facilitando o estudo de diversos idiomas. Não foi assim que o Papa João Paulo II, nascido na Polônia, aprendeu fluentemente o Português? Também não queremos defender o estudo do Latim para falar fluentemente a língua de Júlio César. Mas será que foi tão prejudicial assim essa posição defendida por Vandick Londres da Nóbrega?

Mas insistimos no escopo do estudo do Latim: 1) primeiramente, fazendo o estudante descobrir no Português a continuidade latina, tão presente na língua culta. Daí, levar o discente a descobrir que é um latinista sem o saber, como diria J. Marouzeau. Assim, alcançaríamos o domínio sólido das flexões e derivações portuguesas, isto é, as relações paradigmáticas e sintagmáticas; certamente aqueles que não as têm detalhadamente na memória de pronto, agora, não se queixariam disso. E mais: não andam essas pessoas que estudaram as declinações e conjugações do Latim, tomando remédio, a não ser se afetados por algum mal patológico, para memória ou aulas de memorização, como vemos em propagandas. A que ponto chegamos! Condenaram a tabuada de matemática e o Latim ao degredo, mas se faz curso de leitura dinâmica e de memorização. Pois bem, da luz mediata da aprendizagem da declinação e conjugação em Latim se tornaria mais claro o flexionismo nominal e verbal português a partir de fundamentação em textos. Como, se não num cotejo como este se poderia ressaltar de modo tão convincente a significação da perda do particípio presente como verbóide em Português? Cur, inquit (lupus), turbulentam fecisti mihi / Aquam bibenti? Por que, disse (o lobo), fizeste turva a água para mim - enquanto bebo, estou bebendo, que bebo?

É justificável o estudo de Latim Clássico, já que é muito óbvio reconhecer em leonino, puericultura, lunático, demonstrar, quem, ama, amava, ame a presença de luna, ae, monstro monstrare, ego, quem < qui quae quod, amat amabat amet do que em sombra, nada, diante da presença de sintagmas como re(m) nata(m), sub umbra ou na forma *subrumbrare e illu(m) do Latim Vulgar. Mas também, ao contrário, no Latim Vulgar temos um aliado didático, pois se percebe a continuidade imediata do Português em magis altus, e não em altior.

A Querela dos Antigos e Modernos, tão bem abordada por Ernesto Faria, e balizada desde a Renascença, não foi encerrada pela comissão do Bureau Internacional d’Education, que teve um caráter investigativo sobre o ensinamento do latim, mas propiciou uma iniciativa:

uma comissão mista de professores de latim, de educação e de psicologia das principais universidades norte-americanas, fizeram-se inúmeras pesquisas e inquéritos para se determinarem todos os objetivos de real valor atualmente visados pelos estudos latinos. (Ernesto Faria, Introdução à Didática do Latim, p. 124)

E depois acusam os Estados Unidos como um cultor do pragmatismo. Está aí o que vivencia um professor de Latim.

 

ANEXO 2:

PROGRAMA DO SEMINÁRIO SUPERIOR DE LÍNGUA PORTUGUESA

Promovido pela Academia Brasileira de Filologia em convênio com a Universidade Estácio de Sá e o jornal Folha Dirigida

 

16 de julho - Base de Lingüística Geral, por Leodegário A. de Azevedo Filho;

17 de julho - Base de Filologia Românica, por Evanildo Bechara;

18 de julho - Breve História da Língua Portuguesa , por Rosalvo do Vale;

19 de julho - Fonética e Fonologia , por Walmírio Macedo;

20 de julho - Morfologia , por Ricardo Stavola Cavaliere;

 

23 de julho - Sintaxe , por Claudio Cezar Henriques;

24 de julho - Teoria e Prática de Crítica Textual , por Álvaro de Sá, Marina Machado Rodrigues e José Pereira da Silva;

25 de julho - Estilística , por Castelar de Carvalho;

26 de julho - Semântica , por Antônio Martins de Araújo;

27 de julho - O Português do Brasil , por Gladstone Chaves de Melo.

 

 

ANEXO 3:

ANTEPROJETO DE NORMAS PARA A ADMISSÃO DE MEMBROS EFETIVOS E CORRESPONDENTES NA ACADEMIA BRASILEIRA DE FILOLOGIA

 

Rio de Janeiro, 25 de maio de 2001.

 

Senhor Presidente da Academia Brasileira de Filologia,

Professor Leodegário Amarante de Azevedo Filho:

 

Tendo sido designado para elaborar um projeto de normas relativas à admissão de sócios efetivos e de sócios correspondentes da instituição, tenho agora o prazer e a honra de encaminhar a V. Sº o resultado do meu trabalho, feito com o único propósito de contribuir na medida da minha experiência e das minhas possibilidades para que nas futuras eleições tenhamos mais tranqüilidade e segurança nas decisões que nos cabe tomar em relação aos que se apresentam como candidatos ao preenchimento das vagas no quadro de membros da Academia.

Evidentemente, o que se vai ler é uma série de sugestões, discutíveis, que os senhores acadêmicos poderão analisar, com a plena liberdade de concordar ou discordar das minhas propostas. Eu mesmo, nos debates dos pontos aqui fixados, estarei propenso a mudar o que em vários casos é apenas uma formulação inicial, diante dos argumentos que forem apresentados pelos meus nobres colegas. O presente documento, portanto, será apenas o ponto de partida para tomarmos as decisões que mais convêm aos destinos da Academia.

Muito cordialmente,

Maximiano de Carvalho e Silva

 

NORMAS PARA A ADMISSÃO DE MEMBROS EFETIVOS E CORRESPONDENTES

[ANTEPROJETO]

1. A Academia Brasileira de Filologia, integrada por 40 membros efetivos, membros efetivos do quadro especial em número indeterminado, 40 sócios correspondentes (20 residentes em unidades da federação com exceção do Estado do Rio de Janeiro e 20 residentes no estrangeiro), sócios honorários e sócios beneméritos, organizará o seu quadro de associados levando em conta as seguintes normas gerais:

a. Deixará de pertencer ao quadro de membros efetivos, por livre e espontânea decisão sua, manifestada p9or escrito, passando a integrar em caráter permanente o quadro especial de membros efetivos, com as prerrogativas asseguradas no Regimento da instituição, o acadêmico que se sinta impossibilitado de comparecer regularmente às reuniões ou de colaborar de alguma forma para o cumprimento das finalidades da Academia.

b. 10 dos 20 lugares de sócios correspondentes residentes em outras unidades da federação serão distribuídos eqüitativamente pelas regiões do país (Norte, Nordeste, Centro-Oeste, Sudeste e Sul).

c. 10 dos 20 lugares de sócios correspondentes residentes no estrangeiro serão destinados a representantes dos países da comunidade de língua portuguesa (Portugal, Angola, Moçambique, Cabo Verde, Guiné Bissau, São Tomé e Príncipe).

d. No que diz respeito ao estabelecido nos itens b e c, não havendo inscrições para o preenchimento das vagas respectivas que atendam às exigências deste regulamento, ficará a diretoria da Academia com plena liberdade para tomar a decisão que mais convenha aos interesses da instituição.

2. Ocorrida a vaga de sócio efetivo ou correspondente, o Presidente da ABF, na primeira sessão que se realizar, abrirá inscrições para o preenchimento da mesma, que deverão ser requeridas à secretaria da instituição no prazo de 30 dias, anexando-se obrigatoriamente ao pedido de cada candidato:

a. curriculum vitae (com cinco páginas no máximo, e o texto datilografado ou digitado em papel A4 e espaço duplo);

b. comprovantes do atendimento às exigências para inscrição estabelecidas neste regulamento.

3. No caso de vaga de sócio correspondente, a secretaria da Academia dará divulgação do edital para a respectiva eleição através dos meios de divulgação ou por meio de ofício dirigido aos dirigentes das principais entidades públicas ou particulares onde haja núcleos de estudos e pesquisa das ciências da linguagem.

4. A inscrição de um candidato a sócio correspondente será requerida por meio de carta dirigida ao Presidente da Academia Brasileira de Filologia.

5. Antes de efetuado o ato da inscrição, a secretaria da Academia fornecerá a cada candidato uma cópia do presente regulamento, para deixar bem claro que é requisito indispensável ao deferimento da inscrição o atendimento a uma das seguintes exigências:

a. Apresentação do título de Livre-Docente ou Doutor em Letras, conferido por instituição brasileira ou estrangeira, acompanhada de um exemplar da tese de livre-docência ou de doutoramento (com indicação precisa da data de sua aprovação e dos componentes da banca examinadora) e de pelo menos um outro trabalho de vulto publicado como livro ou como artigo em revista especializada.

b. Apresentação de título honorífico na área de Letras conferido por instituição brasileira ou estrangeira (como o de “doutor honoris causa” ou de “professor emérito”), ou de comprovante de participação especial em evento nacional ou internacional de grande relevo, acompanhada de pelo menos três trabalhos de vulto publicados relativos a estudos filológicos, lingüísticos ou literários.

c. Apresentação, para o reconhecimento de notório saber, de pelo menos cinco trabalhos de vulto publicados no campo dos estudos filológicos, lingüísticos ou literários, acompanhada de juízos que sobre eles firmou a crítica especializada.

6. Não poderá ser deferido o pedido de inscrição de nenhum candidato cuja atuação no campo dos estudos e pesquisas filológicos e literários comprovadamente contrarie os princípios básicos que nortearam a fundação e regem o funcionamento da Academia, expressos no Estatuto, no Regimento ou em resoluções da instituição.

7. Terminado o prazo de inscrições, a mesa diretora da Academia, por indicação do Presidente, designará uma comissão de três integrantes para examinar os pedidos formulados e emitir parecer conclusivo. Ficarão à disposição dos acadêmicos, pelo prazo de uma semana, todos os elementos para a verificação da estrita observância deste regulamento. O candidato que tiver o seu pedido indeferido poderá, no mesmo prazo de 30 dias, apresentar recurso ao Presidente da Academia.

8. A eleição [de membro efetivo da Academia Brasileira de Filologia] obedecerá às seguintes normas:

a. A secretaria dará aos acadêmicos, por escrito, conhecimento prévio dos nomes dos candidatos que tiveram o pedido de inscrição aprovado, e indicará a data marcada para a realização da eleição.

b. A eleição se fará em votação secreta.

c. O acadêmico que não puder comparecer à sessão poderá enviar à secretaria o seu voto, em envelope lacrado, que terá no sobrescrito a sua assinatura e a indicação da cadeira para a qual se elegerá o novo acadêmico;

d. Ficam dispensados os candidatos de procurar pessoalmente os acadêmicos para a obtenção de votos;

e. A eleição se processará em dois escrutínios, sendo os votos do primeiro escrutínio recolhidos em duas urnas: uma para os votos enviados por carta, e outra para os votos dados na ocasião.

f. Feita a apuração dos votos logo em seguida à votação, o candidato mais votado só será considerado eleito se obtiver pelo menos 20 votos.

i. Em segundo escrutínio, a que só concorrerão, caso haja mais de dois candidatos, os dois mais votados no primeiro escrutínio, prevalecerão as mesmas exigências do escrutínio anterior.

ii. Havendo segundo escrutínio, serão considerados válidos os votos dos acadêmicos enviados por carta, o deverão os presentes refazer o seu voto.

g. Se nenhum candidato obtiver o número mínimo de votos para ser considerado eleito, o Presidente da Academia reabrirá as inscrições para uma nova eleição, que se realizará em data a ser anunciada com a devida antecedência.

 

ANEXO 4:

HOMENAGEM PÓSTUMA AO BIBLIÓFILO PLÍNIO DOYLE, POR LEODEGÁRIO A. DE AZEVEDO FILHO

 

A MORTE DO GRANDE BIBLIÓFILO

Leodegário A. de Azevedo Filho (UERJ/UFRJ/ABF)

No dia 26 de novembro último, os amantes do livro choraram a morte de Plínio Doyle, aos 94 anos. Como advogado, atingiu o cargo de Procurador da Fazendo Nacional. Como bibliófilo, desde cedo demonstrou o seu amor ao livro e à pesquisa literária, chegando mesmo a reunir uma biblioteca de mais de 30 mil volumes, que doou à Fundação Casa de Rui Barbosa, em 1988. Plínio comprou um apartamento destinado aos seus livros, ao lado de onde morava, relizando aí, aos sábados, as famosas reuniões de escritores, a princípio com um grupo de amigos entre os quais Carlos Drummond de Andrade, Luís Viana Filho, Rachel de Queiroz e Raul Bopp, fundando o Sabadoyle, nome criado pelo último autor citado e resultante da aglutinação dos termos sábado e Doyle, unindo-se ao grupo nomes como os de Lima, Pedro Nava, Josué Montello, Oscar Dias Corrêa, Antônio Olinto, Murillo Araújo, Homero Sena, Maximiano de Carvalho e Silva, e tantos outros, tudo a partir de 1964, como se pode ler em “Uma vida”, livro em tom memorialístico que publicou em 1999.

O grande bibliófilo foi fundador e diretor do Arquivo-Museu de Literatura da Fundação Casa de Rui Barbosa; diretor da Biblioteca Nacional (1979-1982); fundador da Sociedade dos Amigos de Machado de Assis (1958); membro do Conselho da Ordem dos Advogados do Brasil e do Instituto dos Advogados do Brasil; membro do Conselho Federal de Cultura (1981); e fundador da Associação Profissional dos Escritores, que ele próprio transformou em Sindicato dos Escritores do Rio de Janeiro. Academia Brasileira de Letras lhe conferiu a Medalha Machado de Assis e a Medalha João Ribeiro num gesto de justiça e puro merecimento. Manteve um arquivo de manuscritos literários, hoje pertencente à Fundação Casa de Rui Barbosa, que é precioso acervo para pesquisas de crítica textual, histórica e genética. Organizou e publicou ainda a bibliografia de e sobre Guimarães Rosa (1968); pertenceu ao Instituto Histórico e Geográfico Brasileiro; publicou também a História de revistas e jornais literários (1976); foi diretor da Revista da Sociedade dos Amigos de Machado de Assis (1959-1968); e fundador da Revista de Estudos Jurídicos e Sociais, colaborando ainda no Boletim de Ariel, de saudosa memória.

A partir da década de 60, todos sabem que a literatura no Brasil passou a ter, no seu apartamento da Rua Barão de Jaguaribe, um ponto de referência nacional e internacional, reunindo-se no Sabadoyle vários escritores e intelectuais residentes no Rio de Janeiro e outros procedentes de vários pontos do território nacional. A fama dessas reuniões ultrapassou as nossas fronteiras, ali comparecendo também escritores de várias nações. Particularmente, o primeiro contato que tivemos com o escritor Vasco Graça Moura, então diretor da Imprensa Nacional - Casa da Moeda, de Lisboa, foi numa das reuniões do Sabadoyle, daí nascendo o compromisso de se publicar, em Portugal e em vários volumes, a nossa edição da Lírica de Camões, prefaciada por Antônio Houaiss, com textos estabelecidos à luz da tradição manuscrita e não da tradição impressa.

Em cada reunião, Plínio designava um escritor para lavrar a ata, cabendo-nos também tal função, em particular quando lançávamos um número novo (e foram publicados 15 números) da Revista Brasileira de Língua e Literatura. A propósito, no livro do Sabadoyle, impresso pela Casa da Palavra, o jornalista Homero Sena reuniu numerosas atas que registram a vida literária brasileira filtrada pelos sabadoyleanos, ao longo de várias décadas.

Plínio era um coração aberto e generoso, acreditando firmemente na recuperação do ser humano e no poder do livro como instrumento superior de cultura e educação. Afeiçoava-se fraternalmente aos que freqüentavam a sua casa nos fins de semana, interessando-se humanamente pela vida e pelos problemas de cada um de nós. Poetas, ensaístas, críticos, dramaturgos, romancistas, jornalistas e filólogos, formando imensa família, estavam sempre presentes, havendo apenas uma exigência: não discutir assuntos políticos nas reuniões, respeitando-se ainda a religião de cada um. Era democrata convicto e via, com piedoso olhar, os que apregoavam a morte do livro, sobretudo na época da imagem e do som em que vivemos. No fundo, sabia que a morte do livro, historicamente, já havia sido várias vezes decretada. Mas o livro não morreu, nem vai morrer, melhorando e aperfeiçoando sempre a sua qualidade editorial a cada ano que passa. Ele tinha plena consciência de que a verticalidade do conhecimento só pode vir das páginas do livro e não das emoções epidérmicas de paraliteratura.

Adeus, Plínio Doyle! Contigo também desaparece um momento histórico da vida cultural brasileira. Mas ficará, em todos nós, a tua lembrança amiga e generosa, além do seu admirável exemplo de amor ao livro.

(Jornal do Commercio, Rio de Janeiro, 17/18 de dezembro de 2000)

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