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ATA DA REUNIÃO ORDINÁRIA DA ACADEMIA BRASILEIRA DE FILOLOGIA
DO DIA 24 DE MAIO DE 2003

Às quinze horas e vinte minutos do dia vinte e quatro de maio de dois mil e três, no Auditório de Recursos Audiovisuais (RAV 112) da UERJ, na Rua São Francisco Xavier, 524, bloco F do 11º andar, depois da Reunião Administrativa da Diretoria da ABF, iniciou-se a reunião ordinária da Academia Brasileira de Filologia, estando presentes os acadêmicos, que assinaram o Livro de Registro de Presenças: Amós Coelho da Silva, Antônio Martins de Araújo, Antônio Nunes Malveira, Carlos Alberto Sepúlveda Alves, Carlos Eduardo Falcão Uchôa, Castelar de Carvalho, Cilene da Cunha Pereira, Claudio Cezar Henriques, Evanildo Cavalcante Bechara, Fernando Ozório Rodrigues, Francisco Agenor Ribeiro da Silva, Francisco Venceslau dos Santos, Hilma Pereira Ranauro, Horácio França Rolim de Freitas, José Geraldo Paredes, José Pereira da Silva, Leodegário Amarante de Azevedo Filho, Manoel Pinto Ribeiro, Maria Emília Barcellos da Silva, Maximiano de Carvalho e Silva, Paulo Silva de Araújo, Ricardo Stavola Cavaliere e Terezinha Maria da Fonseca Passos Bittencourt e os visitantes: Afrânio da Silva Garcia, Cláudia de Souza Lavrador de Carvalho, Gabriela Lavrador de Carvalho, Iracy Cambraia Dias de Carvalho, Jairo Dias de Carvalho Filho, Leonardo Calvo Lose Dias de Carvalho, Luíza Azevedo Malveira, Nilda Carvalho Pereira, Raquel Lavrador Bouças e Rodrigo Scofal. Pediram para justificar suas ausências os acadêmicos: Mauro de Salles Vilar, José Venícius Frias e Rosalvo do Valle. Iniciando a reunião, o Senhor Presidente, Leodegário Amarante de Azevedo Filho, mandou ler a ata da reunião de vinte e seis de abril (que foi integralmente aprovada), registrou que não havia correspondência enviada à Academia para ser informada, e convidou o Senhor Vice-Presidente, Evanildo Cavalcante Bechara, para presidir os trabalhos da Sessão de Homenagem Póstuma a Jairo Dias de Carvalho. O Presidente em Exercício, Evanildo Cavalcante Bechara, convidou o Acadêmico Leodegário Amarante de Azevedo Filho para proferir o discurso de homenagem a Jairo Dias de Carvalho, que vai transcrito nos anexos a esta ata. Dando um caráter mais familiar à homenagem, o orador convidou o neto do homenageado, Leonardo Calvo Lose Dias de Carvalho, para compor a mesa. Integrando a homenagem, o orador pediu que a Acadêmica Maria Emília Barcellos da Silva lesse o texto enviado pelo Acadêmico Luiz César Saraiva Feijó, que também vai transcrito entre os anexos a esta ata. Fizeram interferências, relembrando fatos e virtudes do homenageado, os seguintes acadêmicos: Horácio França Rolim de Freitas, Evanildo Cavalcante Bechara, Claudio Cezar Henriques, Paulo Silva de Araújo e Maximiano de Carvalho e Silva e, posteriormente, Jairo Dias de Carvalho Filho, em nome da família, agradeceu a homenagem e relembrou algumas virtudes do pai, de quem herdou o nome. Depois disso, o Senhor Presidente mandou que o Primeiro Secretário, Amós Coelho da Silva, lesse o Discurso de Posse de Jairo Dias de Carvalho na Academia Brasileira de Filologia e que fosse também inserido como anexo nesta ata. Continuando ainda a Sessão de Homenagem, relembrando a veia poética de Jairo, Leodegário de Azevedo Filho recitou duas poesias do homenageado e exibiu um exemplar do seu livro de poesias, que foi entregue ao Acadêmico Manoel Pinto Ribeiro para ser editorado, editado e distribuído gratuitamente aos amigos e admiradores de Jairo Dias de Carvalho, declarando vaga a cadeira 38 da Academia Brasileira de Filologia e abertas por trinta dias as inscrições de candidatos ao seu preenchimento. O Acadêmico Francisco Agenor Ribeiro entregou à Secretaria da Academia Brasileira de Filologia um convite do Presidente da Academia Brasileira de Ciências Morais e Políticas para a palestra “Uma Nova Concepção Penitenciária”, a ser proferida pelo Acadêmico Agenor Ribeiro, no dia 26 de maio, às dezessete horas na sede daquela Academia, sita à Avenida Marechal Câmara, 210, 5º andar. O Presidente da Sociedade Brasileira de Língua e Literatura avisou também que, considerando que aquela Sociedade fora fundada por ele e Jairo de Carvalho, tomara a decisão de dá-la por extinta, ratificada pela Diretora atual, constituída de Leodegário Amarante de Azevedo Filho, Antônio Sérgio de Lima Mendonça, Élcio Luís Machado Rodrigues, Ilka Souza Lima de Azevedo e Marina Machado Rodrigues. Não havendo mais quem desejasse fazer uso da palavra, o Senhor Presidente deu por encerrada a reunião às dezoito horas. E eu, Segundo Secretário, José Pereira da Silva, lavrei a presente ata, que vai assinada por mim e pelo Senhor Presidente.

ANEXO 1:

ACADEMIA BRASILEIRA DE FILOLOGIA
SESSÃO DE 5/7/1971

Senhor Presidente

Senhores Acadêmicos

Minhas Senhoras e meus Senhores

Acadêmico Jairo Dias de Carvalho

 

Poucas vezes, a vida nos oferece uma missão tão honrosa quanto esta. Em nome da Academia Brasileira de Filologia, devo saudar o acadêmico Jairo Dias de Carvalho, eleito para o nosso convívio por expressiva maioria de votos. Essa eleição nos revela, de pronto, que a nossa Academia se renova, escolhendo novos valores pelo critério do valor e não pelo critério da idade. Por certo que o novo acadêmico, iniciando a década dos quarenta, está na plenitude de suas energias, razão suficiente para dele esperarmos muito. A sua vida, inteiramente dedicada ao magistério de Língua Portuguesa, constitui um exemplo a ser meditado pelas novas gerações.

Não é ele filho família rica, mas de família honrada. Fez os seus estudos secundários no Internato do Colégio Pedro II, como aluno gratuito, e aí tive o privilégio de conhecê-lo. Do Jairo, nenhum colega jamais teve qualquer queixa. Ao contrário, todos o estimavam como amigo sempre discreto e sempre leal. Os mestres, em particular os professores Clóvis Monteiro e Quintino do Valle, nunca esconderam o seu entusiasmo pelo jovem estudante de Português. Lembra-me que o Quintino leu, realmente emocionado, lá pelos idos de 45, o poema épico sobre “ Soldado Desconhecido”, escrito pelo Jairo em homenagem aos pracinhas da F. E. B., poema que foi publicado no primeiro número da revista COLMEIA, por mim dirigida no Internato. O Clóvis, com emoção igual, lia os versos do soneto “Velho Mestre”, também publicado pelo Jairo na COLMEIA. Desde cedo, assim, a sua vocação para as letras causava entusiasmo aos mestres e aos condiscípulos. Por isso, foi eleito para a presidência do Grêmio Literário Mello e Souza, onde publicou e dirigiu o jornal MUIRAQUITÃ. O professor Mello e Souza, como os professores Clóvis Monteiro e Quintino do Valle, sempre aplaudiu os trabalhos do jovem estudante e nunca esconderam a certeza de que ele ainda seria um mestre da Língua Portuguesa, como realmente o é.

A sua vida universitária foi a continuação dos sólidos ensinamentos que recebeu no velho Internato do Colégio Pedro II. Como nós, o Jairo concluiu dois cursos: o de Direito, na antiga Faculdade Nacional, e o de Línguas Neolatinas, na Universidade do Estado da Guanabara. Em ambas as Universidades, participou de movimentos estudantis voltados para a cultura, dirigindo comigo inclusive o Diretório Acadêmico Lafayette Cortes. Foi orador da turma de bacharéis em letras nos idos de 1950, cabendo-me idêntica missão na turma de licenciados de 1951. Esse paralelo que aos poucos vou traçando pretende indicar apenas que os laços de amizade que nos unem vêm, através de longa caminhada, dos bancos escolares do Pedro II aos dias presentes.

O nosso primeiro emprego – sem considerar a preparação de alunos para o exame de admissão ao ginasial – foi o cargo de Professor de Curso Elementar Supletivo, durante a gestão de Clóvis Monteiro na Secretaria de Educação do Estado. O velho Mestre não se esquecia de nós, ambos estudantes pobres, e indicou o nosso nome para aquela função extranumerária de um conto e quinhentos por mês. Um ano depois, a então Prefeitura do Distrito Federal abria concurso público de provas e títulos para o cargo efetivo de Professor do Curso Primário Supletivo. Como extranumerários, não estávamos obrigados ao concurso. Mas fomos os primeiros a fazer a nossa inscrição e a conquistar o lugar pelas portas largas e democráticas do concurso. Daí por diante, a nossa vida girou sempre em torno do magistério oficial e particular. Quando foi aberto o concurso para Professor de Ensino Médio, igualmente nesse concurso estávamos inscritos, conseguindo assim aos cargos que ainda hoje ocupamos.

Mas o tempo passou. Quando, juntamente com olhar da Silveira, realizamos o nosso concurso livre, na Faculdade de Filosofia, Ciências e Letras da Universidade do Estado da Guanabara, nós três já éramos professores do Estado e do Pedro II. A nota triste, nesse concurso, foi a ausência de Clóvis Monteiro, Mestre de extraordinárias qualidades humanas, que tanto nos amparou no início de nossa carreira de magistério.

O Jairo nunca deixou de estudar. Ao contrário, como professor, creio inclusive que passou a estudar mais do que tempos de aluno. Não admira, assim, que tenha diplomas de numerosos cursos de extensão universitária, entre os quais pelo menos dois conferidos pelo Instituto Rio Branco. A sua participação em simpósios e congressos, promovidos ou não pela Sociedade Brasileira de Língua e Literatura, de que é um dos diretores, é permanente. Em todos esses conclaves, vem apresentando importantes relatórios e comunicações, que bem poderiam ser reunidos num volume, nesse volume incluindo-se ainda as suas conferências sobre os mais diversos problemas da filologia brasileira. Nos jornais e nas revistas especializadas, a sua contribuição já é também considerável, tendo estampado artigos no DIÁRIO DE NOTÍCIAS, no JORNAL DO COMÉRCIO e nas revistas ESCOLA NOVA, DELFOS e ESCOLA SECUNDÁRIA. O seu livro PORTUGUÊS NO ENSINO MÉDIO mereceu o prêmio Francisco Alves, da Academia Brasileira de Letras. E o seu livro de poemas, intitulado POESIA TALVEZ, bem cedo esgotou-se apenas que as atividades do magistério impedissem uma produção poética mais constante. Nele, entretanto, a sensibilidade estética continua viva e se manifesta nas análises, que faz, em salas de aula, dos textos literários.

Além de mestre da língua, foi também chamado para funções administrativas no Estado, até hoje exercendo a direção do Ginásio Estadual Gomes Freire de Andrade, onde desenvolve um trabalho educativo de ampla repercussão em nosso ambiente escolar. Por isso mesmo, é detentor de Serviços Relevantes prestados à Secretaria de Educação e Cultura do Estado. A presença do professor Jairo Dias de Carvalho, numa sala de aula ou na direção de um estabelecimento de ensino, tem sido sempre uma garantia de eficiência e de seriedade no trabalho. Ao dedicar-se a uma causa, não poupa esforços para levá-la a termo com dignidade humana e competência. Daí os amigos que tem em toda parte, amigos que não lhe poupam o testemunho permanente de admiração e estima pessoal. Entre esses amigos, alguns já se foram, como Clóvis Monteiro, Quintino do Valle, Mello e Souza, Mattoso Câmara Jr., Serafim da Silva Neto, Cavalcanti Proença... outros, juntamente com ele, lutam pelo prestígio da filologia e da cultura no Brasil. Não afirmamos que se trate de uma luta fácil, mas estamos certos de que trata de uma luta digna. Ao nosso lado, o professor Jairo Dias de Carvalho vem desenvolvendo fecunda atividade na Sociedade Brasileira de Língua e Literatura, através da organização anual de simpósios e congressos. Inclusive em livros didáticos vem ele lutando pela renovação do ensino, sendo coauto do volume PORTUGUÊS NO 2° CICLO, recentemente lançado pela Companhia Editora Nacional. Além disso, pertence à Associação de Lingüística e Filologia da América Latina, à Sociedade Brasileira de Romancistas, ao Centro Filológico Clóvis Monteiro, à ordem dos Advogados do Brasil, entre outras instituições. O seu ingresso, portanto, na Academia Brasileira de Filologia constitui motivo de dupla honra. De fato, honra-se o novo acadêmico por ter um lugar entre nós. Mas honra-se o novo acadêmico por ter um lugar entre nós. Mas honra-se igualmente a Academia em recebê-lo, na certeza de que se enriqueça com a sua inteligência e a sua dedicação aos estudos lingüísticos.

Tempo é, entretanto, de emitirmos uma opinião – que está longe de ser um julgamento – sobre vos trabalhos publicados pelo acadêmico Jairo Dias de Carvalho. Deixando de lado a poesia, por ser obra de criação e não de ciência, o seu estudo sério é sobre a língua literária de Olavo Bilac, matéria de sua tese de concurso para a docência livre de língua Portuguesa. Tem o livro o defeito de sua qualidade. queremos dizer: como tese de concurso, o candidato deixou para a defesa boa e considerável parte de suas pesquisas, dessa parte fazendo uso perante a banca examinadora que o aprovou plenamente. No volume premiado pela Academia Brasileira de Letras, que é o PORTUGUÊS NO ENSINO MÉDIO, o nosso colega consegue associar, com extrema felicidade, a sua segura orientação doutrinária às exigências da didática moderna. Mas vemos como ponto alto de seus estudos, o que tem publicado em atas de simpósios e congressos de filologia e lingüística. Entre esses estudos, que devem ser enfeixados em volume próprio, ressaltamos: “Mistura de Tratamento no Português do Brasil”; “Estruturalismo”; “Valor e Manejo da Bibliografia”; “Estruturalismo e Sintaxe”; “Os Estudos de Sintaxe Portuguesa”; “Traços Medievais na Língua Brasileira”; e “A Nomenclatura Gramatical Brasileira e seus Problemas”. Tais estudos, juntamente com suas conferência sobre filologia, dariam excelente volume e excelente contribuição ao desenvolvimento das pesquisas lingüísticas no Brasil. Entre as conferências, mencionamos: “A Ordem das Palavras na Frase”; “A Semântica”; e “Moderna Análise Sintática”. Em todos esse trabalhos sente-se uma preocupação de rigor científico centrada em sólida formação doutrinária e numa sensibilidade estética realmente admirável. Quando fala de filologia, o professor Jairo Dias de Carvalho nunca deixa de lado a beleza do texto. Por isso mesmo, não há aridez em seus estudos, porque recebem o bafejo salutar da estética da língua. Nem se diga que ficou no passado, ou que se mostra desatento aos progressos da ciência lingüística. Os seus trabalhos sobre estruturalismo são um indício de que está permanentemente atualizado, merecendo o incentivo e a amizade de Mattoso Câmara Jr., enquanto viver.

Mas devo indicar, pelo menos no meu entender, qual a tônica em seus estudos. O professor Jairo Dias de Carvalho é, antes de tudo, um espírito de síntese. Isso, evidentemente, não significa que ponha a análise em segundo plano. Significa apenas que a sua formação é universitária, sendo por isso mesmo capaz de atingir as grandes sínteses. Muitas vezes, numa frase sua resume toda uma discussão sobre assunto de natureza extremamente controvertida. Esse poder de síntese, como índice de inteligência e de vivacidade mental, tem posto termo a muitas discussões filológicas. O Jairo sintetiza e resume com tal precisão que, não raro, uma idéia sua se transforma em assunto de longos e minuciosos debates analíticos. Além disso, sempre avesso a qualquer tipo de polêmica, recorre ao senso de humor em momentos oportunos, sempre unindo os colegas e nunca acirrando qualquer tipo de divergência. Tais qualidades respondem por uma dimensão humana que nos enriquece, sempre que dele nos aproximamos. Em sua excessiva modéstia, quase diria timidez, o nosso colega esconde a riqueza de sua sensibilidade e de sua inteligência, nunca postas a serviço de causas indignas da condição humana. Reúne assim, ao saber filológico, um conjunto de qualidades humanas que dificilmente encontramos numa só pessoa. Avesso a qualquer tipo de exibicionismo, evita o brilho efêmero de competições para dedicar-se ao estudo com humildade intelectual, qualidade que só os verdadeiros homens de ciências possuem. Bem se vê, por tudo isso, que a nossa Academia tem razões de sobra para recebê-lo com júbilo, na certeza de que a sua presença entre nós representa uma forma de enriquecimento.

São estas, meu caro Jairo, as palavras do seu amigo no dia em que você, por merecimento, ingressa na Academia Brasileira de Filologia. Estou certo de que você merece muito mais e de que, por muito dissesse pouco revelei do seu valor. Mas esse valor, que não pude revelar, está expresso nos votos que você recebeu através de uma eleição limpa e consagradora, em que a maioria absoluta dos acadêmicos esteve do seu lado.


Leodegário A. de Azevedo Filho

 


ANEXO 2:


JAIRO DIAS DE CARVALHO


Luíz César Saraiva Feijó


No dia 3 de maio de 2003 faleceu no Rio de Janeiro o Professor Jairo Dias de Carvalho, um dos mais respeitados e admirados professores da língua portuguesa desse Estado. Com ele convivi por mais de quarenta anos, desde os tempos da Faculdade de Filosofia, Ciências e Letras da Universidade do Distrito Federal – UDF -, depois Universidade do Estado da Guanabara – UEG – e, finalmente, Universidade do Estado do Rio de Janeiro, UERJ.

Jairo Dias de Carvalho foi uma dessas figuras cândidas que nos envolvia, com sua simplicidade, sempre pronto a ajudar, colaborar, identificado e com as boas causas. Homem culto, correto, justo, democrata e amigo. Teve sua vida dedicada aos estudos humanísticos, trabalhando como pesquisador da língua portuguesa, como pedagogo, filólogo, articulista em muitos jornais desta cidade, escritor, autor de um precioso livro, O português no ensino médio, inserido na Coleção Pesquisas Brasileiras, dirigida por mim, da Editora do Professor, em 1964. Tive a honra de com ele publicar três livros: Português no segundo grau, São Paulo, Companhia Editora Nacional, 1972 (este com mais dois outros professores: Leodegário A. de Azevedo Filho e Jayr Calhau); Um Estudo sobre Espumas Flutuantes de Castro Alves, comentários crítico-filológicos e estilísticos, Rio de Janeiro, Edições Gernasa, 1974. O professor Jairo Dias de Carvalho foi, também, um dos maiores incentivadores das minhas produções, sempre disposto a escrever prefácio e orelhas das coisas simples que eu publicava.

Esteve sempre comprometido com as mais modernas formas pedagógicas de aprendizagem, como foi a grande experiência, pioneira no Estado do Rio de Janeiro e, talvez, no Brasil, dando apoio implementando a criação da Rádio Escola do Colégio Estadual Gomes Freire de Andrade, que dirigiu por mais de dez anos, no subúrbio pobre da Penha, em 1971. Lá trabalhamos juntos nesse projeto pioneiro, recebendo do estimado amigo Jairo/ todo o apoio possível, materializado nas atividades contínuas que a Rádio Escola desenvolvia, empolgando a todos, inclusive ao então Secretário de Educação do Estado, Prof. Celso Kely, que nos distinguiu com sua visita ao Colégio várias vezes, para acompanhar aquele inovador projeto pedagógico que iria formar alguns futuros radialistas, como ocorreu, antes mesmo da promulgação da Lei 5692, que introduziu a profissionalização em nível médio.

Gostaria, portanto, de homenagear a memória de Jairo Dias de Carvalho, aqui nesta nossa Casa, responsável pela maior produção lingüística e filológica do Brasil, por parte de seus Acadêmicos, onde convivemos por algum tempo, e nesta Universidade, onde trabalhamos e lutamos sempre pela criação de um ambiente universitário sadio, profissional e democrático. Então, impossibilitado de me deslocar de Santa Catarina para o Rio de Janeiro, peço ao Prof. Leodegário A. de Azevedo Filho para ler, como forma de homenagem à sua memória, a recensão crítica do livro O Português no Ensino Médio, que publiquei no Jornal do Comercio, em 4 de dezembro de 1965, naquela época alegre pelo sucesso que a obra alcançava, hoje, com a profunda tristeza que a saudade impõe.


“O PORTUGUÊS NO ENSINO MÉDIO”

O professor Jairo Dias de Carvalho lançou pela Editora do Professor um Magnífico volume: O Português no Ensino Médio. Obra premiada pela Academia Brasileira de Letras, Prêmio Francisco Alves. O volume, indispensável a todo professor de nível secundário que labuta na árdua função de orientador, de mestre, principalmente de mestre da língua pátria é a Segunda publicação da Editora do Professor, dentro da Coleção Pesquisas Brasileiras, dirigida pelo signatário deste artigo.

A idéia desta coleção surgiu há muito tempo: talvez mesmo nos bancos da Universidade. Seu objetivo é o de difundir obras ligadas à didática especial do ensino da língua portuguesa, à filologia e à lingüística. Objetivo um tanto condoreiro nesta terra onde tudo é difícil, principalmente editar livros especializados...

O volume número 1 desta coleção é obra de profunda pesquisa especializada. Obra que encerra a contribuição, neste campo da cultura lingüística, sempre bem recebida pelos estudiosos, do professor Leodegário A. de Azevedo Filho: As Unidades Melódicas da Frase.

O volume número 3 está em preparo. acha-se pronto para entrar em rotação, no prelo. Caso esta Coleção consiga sobreviver, teremos, em breve, o excelente trabalho do saudoso professor Joaquim Ribeiro, mestre de nosso idioma, folclorista, crítico, esteta, filólogo e historiador: amigo sempre lembrado. Trata-se de uma importante obra, que contribuirá, incontestavelmente, para os estudos lingüísticos e antropológicos, entre nós: O Folclore Tupi, com prefácio de Renato de Almeida.

O Português no Ensino Médio, de Jairo Dias de Carvalho é, contudo, umas das mais séries contribuições para o conhecimento da didática da nossa língua. A obra nos apresenta um plano geral, onde o autor trata do problema da língua portuguesa, à luz da Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional, de 1961, em vigor desde 1º de janeiro de 1062. Aborda a Linguagem Transmitida e a Linguagem Adquirida à luz da lingüística moderna. Com esquemas de aulas para composições orais, dá segura orientação aos nossos professores de nível médio, contribuindo, dessa forma, para a solução de um problema que desafia a didática de nossos mestres. Como instrumento indispensável ao aperfeiçoamento cultural, trata o autor da Leitura em sala de aula. Da Leitura passa ao Ensino da Literatura Vernácula, indo até as interpretações de textos literários.

Valoriza o ensino da gramática através da didática da Análise Sintática. Neste campo, compara métodos e dá seguras orientações. Focaliza a Nomenclatura Gramatical Brasileira em face às críticas a ela feitas, todavia, em alto padrão técnico, atualizado, seguro sempre do que afirma, com o grande poder de síntese que o caracteriza.

Real contribuição é a da Nomenclatura da Estilística, abordada na parte IV do plano geral da obra. Com apoio na Nomenclatura Gramatical Brasileira e nos Programas de Língua Portuguesa do Ministério da Educação e Cultura, dá segura orientação, que simplifica e facilita o ensino desta parte dos Programas impregnados, ainda, daquela herança da antiga retórica.

Capítulo de grande utilidade é aquele no qual trata da Correção de Textos como Procedimento Didático, tão mal usado, ainda, em nossas escolas secundárias.

Estuda o problema dos Nomes Concretos e Nomes Abstratos, com vastas citações de renomados professores, chegando a uma conclusão própria e inteligente.

Focaliza o Cinema e o Ensino de Português, atividades extra-escolares, e o emprego dos materiais audiovisuais.

Para os estudantes dos cursos de didática e estudantes dos atuais cursos finais (últimas séries) das nossas Faculdades de Filosofia, a parte VI da obra apresenta o Ensino de Português no Segundo Ciclo com Planos de Aulas desenvolvidos, orientando os futuros mestres de nossas escolas.

A parte VII de seu plano é dedicada a três grandes mestres do idioma: Quintino do Vale, Clóvis Monteiro e Joaquim Ribeiro. Um breve histórico das atividades culturais destes três saudosos professores e as suas contribuições para o estudo dos problemas de nosso idioma.

A parte VIII do plano dedica o autor à Filologia Portuguesa. A Língua Portuguesa no Ensino Superior. Retrata a sua experiência como professor, Livre Docente da Cadeira de Língua Portuguesa da Faculdade de Filosofia, Ciências e letras da Universidade do Estado do Guanabara, onde foi orientado na assistência ao mestre Clóvis Monteiro.

Terminando o seu livro, dá-nos uma Orientação Bibliográfica preciosíssima, dividida em assuntos relacionados com os campos do estudo da língua, assim: fundamentos Lingüísticos: 36 indispensáveis obras. Fundamentos Românicos: 24 outras obras. Introdução à Filologia Portuguesa: 6 obras fundamentais. Português no Brasil: 23 obras indispensáveis. Folclore: 15 obras básicas. Didática: 17 obras, das melhores selecionadas para uma perfeita orientação aos professores secundários.

O Português no Ensino Médio, de Jairo Dias de Carvalho é uma obra que não pode faltar na mesa de trabalho de qualquer professor estudioso dos problemas da língua portuguesa, pelo excelente conteúdo que contém e pelo que de renovar encerram suas páginas, premiadas pela Academia Brasileira de Letras.

Adeus, meu bom amigo Jairo, que Deus o acolha em sua eterna bondade.



Luiz César Saraiva Feijó




ANEXO 3:


ACADEMIA BRASILEIRA DE FILOLOGIA
Sessão de 5/7/1971
Discurso de posse do Acadêmico Jairo Dias de Carvalho

 

Aprendi com meus mestres a distinguir entre a ambição e a aspiração.

A ambição tortura e angustia.

A aspiração é legítima quando flui num curso natural de trabalho e de estudo.

Aspirava por certo a pertencer a esta ilustre companhia; não somente pelo alto prestígio de seu nome, mas principalmente pelo convívio com mestres que, mais que o ensino do idioma, amam e vivem a Filologia, no que ela representa como floração do espírito.

Desde cedo, ligado por laços familiares ao Colégio Pedro II, ouvi com respeito e admiração a legenda de silva Ramos, João ribeiro, Said Ali, Quintino do Vale, Clóvis Monteiro, Antenor Nascentes, José oiticica, Cândido Jucá (filho), esse mestres que edificaram as bases da filologia portuguesa no Brasil, muito antes que surgissem as Faculdades de Letras com uma plêiade de novos valores.

É significativo ressaltar que o Colégio Pedro II, durante tantos anos único reduto dos estudos superiores de língua portuguesa, volte ao primeiro plano com a Faculdade de Humanidade e com a cessão eventual de suas salas às sessões da Academia Brasileira de Filologia e da Sociedade Brasileira de Romancistas.

Pelo voto generoso de amigos aqui presentes e com a saudação fraternal de Leodegário A. de Azevedo Filho, eis-me chegado à Academia Brasileira de Filologia.

Apraz-me e comove-me que o discurso de recepção o faça o Acadêmico Leodegário Amarante de Azevedo Filho, pela mágica e entusiasmo de sua palavra, e pelos laços de amizade que nos unem, desde que iniciávamos, no Velho Internato do Colégio Pedro II, em São Cristóvão, uma jornada comum que nos levaria à Universidade e ao magistério público.

Leodegário, pernambucano de nascimento, carioca de coração, é um lidador.

Os cargos e posições que hoje ostenta, coroando uma carreira ascensional, em que se multiplicam os títulos, as dignidades universitárias e trabalhos publicados, ele os conquistou pelo estudo e pela perseverança.

Ao contrário daquele alfinete de cabeça grande do “Apólogo” de Machado de Assis, que permanecia onde o espetavam, Leodegário Amarante de Azevedo Filho jamais ficou contemplação da gloríola transitória. 

Tem sido, em educação e em filologia, como em outros campos um moderno bandeirante. E as trilhas por ele abertas servem a todos os que se comprazem no estudo e na pesquisa.

A cadeira nº 38 da Academia Brasileira de Filologia tem como patrono Mario Barreto, escolhido que foi por seu primeiro ocupante o professor Jacques Raimundo.

Filho de Fausto Barreto, que tão assinalada contribuição trouxe à renovação dos estudos lingüísticos no Brasil, Mário Barreto exerceu o magistério em classe e nas seções de linguagem dos jornais da época. As respostas aos consulentes foram mais tarde reunidas em livros que lhe firmaram a reputação de notável conhecedor da língua portuguesa. è que, como Antônio de Morais Silva, procurou ele fundamentar os ensinamentos gramaticais com a lição dos clássicos.

Em vez do magister dixit a sanção do uso literário.

Suas lições, apresentadas com notável clareza, constituem por si mesmas um processo de investigação filológica. Abrangem ampla matéria gramatical como se pode ver no “Índice Alfabético e Crítico” que de sua oba organizou Cândido Jucá (filho).

Antecessores ilustres nesta poltrona foram Jacques Raimundo e Augusto Meyer.

O primeiro, professor militante e entusiasmado, distinguiu-se como estudioso dos afro-portuguesismos, a partir da tese com que concorreu a uma das cátedras do Colégio Pedro II – “O Elemento Afro-Negro na Língua Portuguesa”. Rio de Janeiro, 1933.

Não padece este trabalho da falha comum às obras que trataram de influência africana ou ameríndia: o exagero de tudo atribuir aos africanos ou aos silvícolas.

Inferiorizados socialmente como os índios, os africanos foram, no entanto, trazidos para o convívio doméstico. A ação das mucamas sobre as crianças e os patrões deixou marcados traços no caráter nacional, que podem ser rastreados na culinária, na música popular, o folclore, no sincretismo religioso, tão bem aproveitado por Jorge Amado em seus romances picarescos.

A estrutura da língua culta não foi, porém, afetada. Havia edição clássica e a linguagem, numa sociedade escravocrata, era o divisor entre a massa alarve e a elite europeizada. Um dos meios de acesso social era o domínio do idioma português. Os estudos gramaticais foram cultivados com interesse e o homem de palavra fluente sempre desfrutou de consideração geral. 

É na língua popular e no sistema expressivo da linguagem familiar que melhor se pode observar a influência africana.

Augusto Meyer merece toda uma poliantéia. Sua produção intelectual é vária e diversificada; vai do memorialismo à poética, do folclore à filologia, da crítica literária à análise estilística: Menino e Moço (Poesias), Guia do Folclore, Prosa dos Pagos, A Chave e a Máscara, Camões o Bruxos...

Representa ele, no panorama das letras pátrias, a feição regional do espírito moderno, que entre nós desabrochou em 1922, na discutida “Semana de Arte Moderna”, marco de uma tríplice revolução-política, estética, espiritual, como assinalou Alceu Amoroso Lima, ao recebê-lo na Academia Brasileira de Letras.

Há na formação de Augusto Meyer, em seu devotamento ao estudo, na organização exemplar que deu ao Instituto Nacional do Livro, quando o dirigiu, a herança cultural de seus ascendentes germânicos, o legado verbal haurido na leitura febril iniciada na adolescência e continuada pela vida fora...

Intelectual por excelência, quase transparente, pela reclusão bibliográfica em que vivia, residente nesta cidade, jamais esqueceu o chão gaúcho, em que nascera, e que imortalizou em páginas de prosa e poesia, iluminadas de lirismo.

Seus estudos sobre Proust, Rimbaud, Camões e Machado de Assis constituem primoroso modelo de análise estilística.

Era uma dessas personalidades que rareiam em nosso tempo: um humanista que ensina pela palavra e pelo exemplo.

Erudito e lírico...

Sua morte deixou-nos vazio que não podemos preencher.

Esforcemo-nos por honrar sua memória, dignificando o idioma que tanto amou.

Esta é afinal a missão da Academia.

Não somente a guarda do tesouro verbal de todos os tempos ou a defesa do patrimônio cultural de uma nação.

Em nosso caso particular, professores, parcela privilegiada de nosso povo, devemos pôr a palavra a serviço da comunhão e do progresso nacional.

Aproximam-se os dias em que o poder público e a iniciativa empresarial melhor sentirão a importância do labor lingüístico e filológico, proporcionando às instituições culturais condições mais favoráveis ao pleno desenvolvimento de seus programas.

Entre as tarefas que reputamos valiosas para o desenvolvimento dos estudos filológicos no Brasil, citamos: a elaboração do dicionário-museu, um repertório bibliográfico crítico lingüístico-filológico, um inventário do léxico básico, segundo o critério da ocorrência, o levantamento dos padrões sintáticos usuais, a edição crítica dos autores mais representativos de nossa linguagem, glossários de dialetologia vertical, estabelecimento de uma ortografia mais coerente.

A todos esses pontos a Academia Brasileira de Filologia, por seus pares, desde que foi fundada, em 26 de agosto de 1944, vem trazendo uma preciosa colaboração.

A chama que aqui se reacendeu veio de longe – de Atenas, de Roma, de Lisboa.

Ela não se apagará. Não são as máquinas que devassam os abismos estelares. É o espírito humano, em sua plenitude, procurando as dimensões da inteligência.

A Filologia, arte e ciência, renova-se e vive, como se renova e vive, em terras do Brasil, a língua de Camões. Hoje e sempre. Por vontade de Deus, pelo trabalho dos homens.

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